sexta-feira, outubro 13, 2006

Testamento

À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...

Alda Lara

5 comentários:

Anónimo disse...

Acabei de ouvir este poema na maratona da poesia em Sintra, foi um momento arrepiante...

Totoia disse...

Eu tb ouvi e concordo com a Sandra n., foi simplesmente genial!!

Anónimo disse...

Adoro este som Wim Mertens!!!
:)

Anónimo disse...

Esta Poetisa tem um tom cheio de grandiosidade, primeiro por ser africana, e segundo por ser Poeta.
Conheço muitos poemas escritos por ela como por ex.: Presença Africana; Prelúdio.
Gostei imenso da tua escolha.

Maria Ostra disse...

Que maravilha! Não conhecia...