sexta-feira, março 28, 2008

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Ai... que cabeça no ar, ando pelas estrelas, planetas distantes, de nuvem em nuvem, resta saber se haverá uma queda súbita no planeta terra, e um acordar desta letargia. Estou num processo de franca recuperação à base de limonadas, e de leituras da Bíblia. Credo, valha-nos a virgem Maria e o Chalana.

A Ronda Nocturna...


Em cena no Maria Matos, vale mesmo a pena. Aqui as palavras são como uma arma, uma guerra verbal, frustações expostas, desilusões, reflecte o que passa em muitas relações familiares. Em que há personagens muito centradas no seu ego, mas que acabam por cair num vazio. Excelente trabalho de actores, um cenário muito interessante, tudo isto conjugado origina um bom momento de teatro, como não via há já algum tempo.

segunda-feira, março 24, 2008

Dia Mundial da Poesia

QUASE

Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa,
Se ao menos eu permanecesse aquém.

Assombro ou paz? Em vão. Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espumas;
E um grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido.

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim – quase a expansão,
Mas, na minh’alma tudo se derrama,
Entanto, nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo e tudo errou
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim
Asa que se elançou mas não voou.

Momentos de alma que desbaratei.
Templos aonde nunca pus um altar
Rios que perdi sem os levar ao mar
Ânsias que foram mas que não fixei.

Se me vagueio, encontro só indícios,
Ogivas para o sol – vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé acobardadas
Puseram grades sobre os precipícios

No ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí.
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi.
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Um pouco mais de sol – e fora brasa,
Um pouco mais de azul – e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa,
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Mário de Sá-Carneiro

sexta-feira, março 14, 2008

What da Fuck...


PS quer proibir colocação de “piercings” na língua
O PS entregou hoje no Parlamento um projecto de lei que regula o funcionamento dos estabelecimentos que fazem tatuagens e aplicam “piercings”, passando a ser proibida a sua aplicação na língua. Para os menores de 18 anos, o projecto estabelece a total proibição da aplicação de “piercings”, tatuagens e de maquilhagem permanente.
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[Público]. Público

segunda-feira, março 10, 2008

Sempre ausente...

diz-me que solidão é essa
que te põe a falar sozinho
diz-me que conversa
estás a ter contigo

diz-me que desprezo é esse
que não olhas para quem quer que seja
ou pensas que não existe
ninguém que te veja

que viagem é essa
que te diriges em todos os sentidos
andas em busca dos sonhos perdidos

lá vai o maluco
lá vai o demente
lá vai ele a passar
assim te chama toda essa gente

mas tu estás sempre ausente
e não te conseguem alcançar

diz-me que loucura é essa
que te veste de fantasia
diz-me que te liberta
de vida vazia

diz-me que distância é essa
que levas no teu olhar
que ânsia e que pressa
que queres alcançar

que viagem é essa
que te diriges em todos os sentidos
andas em busca dos sonhos perdidos

lá vai o maluco
lá vai o demente
lá vai ele a passar
assim te chama toda essa gente

mas tu estás sempre ausente
e não te conseguem alcançar
mas eu estou sempre ausente
e não me conseguem alcançar

António Variações

Acordo Ortográfico...

E prontos, o Acordo Ortográfico foi ratificado. É impressionante como foi conduzido este processo, no quase total secretismo. A importância do mesmo justificava um amplo debate, esclarecimentos. É pena que o comum dos portugueses não se tenha apercebido, deste facto, que irá implicar fortes transformações no quotidiano, a todos os níveis. Este é o meu grito de revolta, para quando uma sociedade acordada, consciente? Também concordo que a língua portuguesa deve sofrer transformações, como sofreu ao longo dos tempos, mas, de uma forma lógica e inteligente. A ver vamos como será esta pequena revolução. Que Deus nos proteja.

sábado, março 01, 2008

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Estou em casa a bater com a cabeça nas paredes, telefono à minha mãe: - estou completamente desorientado como um passarinho acabado de sair da casca.
Há três dias que não saio de casa, andam-me a perseguir, mas quem? – são os irmãos metralha, uma dupla terrível, que traficava peças de mota, tubos de escape, e vário tipo de material impossível de encontrar no mercado tradicional, são peças que uma vez implantadas nos motociclos, transformam estes veículos motorizados nas mais belas obras de arte. O Zé-Tó é um cliente habitual, a sua mota tem uma performance brutal, e já lhe permitiu arrecadar um belo troféu no campeonato regional de tunning da Baixa da Banheira. Foi um dia histórico para o Zé-Tó, o rapazinho era açougueiro no melhor talho cá do bairro. À porta do talho vários anúncios, dobrada ao preço da chuva, maõzinhas de vaca, chispe: tudo das melhores carnes provenientes das melhores pastagens da Malveira.
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A minha mãe vem no expresso da EVA a caminho de Lisboa, ocupa o lugar 48, foi mesmo à rasca que conseguiu o bilhete, a lotação estava esgotada,
D. Manuela sentou-se nos últimos bancos, o espaço para as pernas é diminuto, o passageiro que se atreva a viajar nestas condições, sofrerá as passas do Algarve, um tortura digna dos tempos da inquisição, alguns passageiros chegam ao destino com as pernas encavalitadas nos ombros, alguns nem conseguem recuperar, nem com meses de fisioterapia. O conceito de transporte de humanos para quem concebe estas geringonças, é algo de muito redutor, ou seja, o que é necessário é ocupar todo o espaço disponível no interior do veículo, também conhecido pelo vulgar sardinha em lata. Uma sardinha por dia, nem sabe o bem que lhe fazia.
Quando viajo nestas condições utilizo um esquema infalível: começo a vomitar, há um liquido que escorre pelo bancos de veludo com riscas azuis. De súbito o passageiro do lado pede para mudar de lugar. Fixe, mais espaço para respirar dentro deste caixote com rodas, muitas por sinal. O motorista é obrigado a parar, o cheiro no interior do veículo é agonizante. Uma pensionista que transportava o seu caniche branco, queria arrancar-me os olhos. Eu nem tinha notado, mas tinha acabado de cometer um homicídio de um pobre canídeo. Peço desculpa minha senhora, mas tudo tem uma solução, quando chegar a Lisboa arranjo-lhe um caõzinho, o que não falta por essas ruas imundas, são vira-latas à espera de uma dona carinhosa que lhe corte as unhas dos pés, e lhe aconchegue o estômago com pedigree pal. Não houve acordo entre ambas as partes, a puta da velha, disse-me que iria pagar bem caro aquele acto hediondo digno de manchete do 24 horas.
– Oh, meu cabrão, deste que o meu falecido marido morreu, o Toni era a minha única companhia, era com ele que eu conversava, às vezes até jogávamos às cartas. Desata a chorar desalmadamente, do nada surge um dilúvio que acaba por refrescar o autocarro, o odor pestilento provocado pelo vómito, tinha sido eliminado por lágrimas de beata.
O sr. Manuel, motorista há mais de vinte anos nesta companhia, milhares de quilómetros ao longo do país e estrangeiro: lá passa a esfregona pelo corredor, isto faz-me a pior profissão do mundo, precisamente a do homem da esfregona do reputado Animatógrafo do Rossio.
Penso para os meus botões, há cenas fodidas, mas agora eu agora é que estava bem fodido por causa da merda de um caniche. Os caniches são como as putas,
são mais que as mães, é só virar a esquina e lá está uma, às vezes até nos entram pela casa adentro, é só uma questão de dinheiro. Money talks, money walks.