sábado, dezembro 08, 2012

Amor...


Georges e Anne são dois professores de música reformados que já passaram dos oitenta. Vivem comodamente num belo apartamento de Paris, têm uma vida cultural activa e sentem-se felizes e realizados. Até Anne ter um acidente cardiovascular. Saída do hospital, paralisada de um braço e impedida de voltar a tocar, torna-se totalmente dependente dos outros. Os dias vão passando até que todos se apercebem que a doença também lhe afectou o cérebro e que ela caminha para uma demência progressiva. E é assim que, a braços com uma situação sem retorno, eles vão ter de aprender a lidar com o medo e com a consciencialização do fim que, inexoravelmente, se aproxima.
Um filme dramático sobre o amor e a velhice, realizado pelo aclamado realizador austríaco Michael Haneke. O filme, aplaudido pelo público e pela crítica no Festival de Cannes de 2012, valeu a Haneke a segunda Palma de Ouro (depois d' "O Laço Branco" em 2009) e foi o vencedor da 25.ª edição dos Prémios do Cinema Europeu, conquistando as quatro categorias principais: melhores filme, realizador, actor (Jean-Louis Trintignant, depois de uma ausência de mais de uma década) e actriz (Emmanuelle Riva).  Fonte: PÚBLICO

domingo, dezembro 02, 2012

As Idades Do Mar...




O mar é o tema central da exposição que o Museu Calouste Gulbenkian vai apresentar a partir do dia 26 de outubro, na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação. Em exposição vão estar mais de uma centena de obras, dos séculos XVI ao XX, provenientes de 51 instituições nacionais e estrangeiras, com o apoio excecional do Museu d’Orsay.

Partindo de uma sondagem histórica da representação visual do mar, a mostra procura identificar os temas fundadores que levaram à sua extensa e recorrente representação na pintura ocidental. A exposição desenvolverá o conceito que dá título ao projeto em seis secções distintas: A Idade dos Mitos; A Idade do Poder; A Idade do Trabalho; A Idade das Tormentas; A Idade Efémera; A Idade Infinita.

Van Goyen, Lorrain, Turner, Constable, Friedrich, Courbet, Boudin, Manet, Monet, Signac, Fattori, Sorolla, Klee, De Chirico, Hopper, são alguns dos 89 autores presentes na exposição com obras de superior qualidade. Também a pintura portuguesa, através de Henrique Pousão, Amadeo de Souza-Cardoso, João Vaz, Maria Helena Vieira da Silva e Menez, entre outros, contribuirá para esta abordagem exaustiva e por vezes inesperada de um motivo tão fascinante – e simultaneamente com especial significado na história e cultura portuguesas.

Cloud Atlas...




quinta-feira, novembro 22, 2012

António Pinho Vargas...


Obrigado Gulbenkian, António Pinho Vargas é de uma dimensão extrasensorial, incandescente, torna-nos maiores, muito grandes, num Portugal bovino que definha, caminha aos solavancos, invisual, castrado. Só mesmo uma individualidade desta grandeza para nos mostrar que a economia não nos pode matar.

sábado, novembro 10, 2012

segunda-feira, outubro 29, 2012

trabalho (filosofia)...

O termo trabalho é originário do latim tripalium, que designa instrumento de tortura. Por extensão, significa aquilo que fatiga ou provoca dor.
O trabalho é da idade do homem e é uma atividade pela qual o homem transforma o universo. 
Será que trabalhar é uma condição essencial ao homem? Ou o homem só trabalha por necessidade e pela ameaça de se poder extinguir se não trabalhar?
Para Kant, o homem é o único animal votado ao trabalho. É necessária muita preparação para conseguir desfrutar do que é necessário à sua conservação. Mesmo que todas as condições existissem para que não houvesse necessidade do homem trabalhar, este precisa de ocupações, ainda que lhe sejam penosas. A ociosidade pode ser ainda um maior tormento para os homens.
Michel Foucault tem outra perspetiva: em todos os momentos da história, a humanidade só trabalha perante a ameaça de morte, qualquer população que não encontre novos recursos está votada à extinção e, inversamente, à medida que os homens se multiplicam, empreendem trabalhos mais numerosos, mais difíceis e menos fecundos. O trabalho deve crescer de intensidade quanto maior for a ameaça de morte e por todos os meios terá de se tornar mais rentável,quanto de menos acesso as subsistências existirem.
É como uma atividade penosa a que o homem não pode fugir que a conceção de trabalho herdou das suas origens grega e judaico-cristã.
 o êxito do capitalismo burguês, no século XIX, coloca o trabalho como um valor supremo de uma sociedade voltada para o lucro e para a prosperidade e crescimento.
O trabalho constitui-se mais tarde como uma questão social com a produção industrial, o trabalho torna-se um fim em si mesmo e o trabalhador é um mero instrumento de produção, necessário ao funcionamento de uma fábrica, mas do qual existe a outra parte, o capital, necessário para a fábrica se estabelecer e que não depende do trabalhador.
Nos nossos tempos, com novo sistema de valores, o trabalho é uma das dimensões em que o homem se realiza juntamente com a família, os tempos livres, os amigos, a cultura, etc.
O trabalho é um processo universal, está presente em todos os homens, em todas as gerações, mas também tem uma dimensão pessoal, pois é através do sujeito que se efetua e esse sujeito, através do trabalho, tem uma forma de realização pessoal. Não se pode esquecer igualmente a sua vertente social, já que integra o homem num grupo profissional, onde estabelece relações inter pessoais. 
Na época de desenvolvimento industrial, existiram conflitos de classes: mundo do trabalho versus capitalismo.
Para Marx, o trabalho é o prolongamento da atividade natural do homem, mas mais tarde conclui que a força de trabalho é uma mercadoria e que, para viver, o proletário vende o capital.
Segundo Marx, o trabalho denuncia uma exploração económica e uma situação em que o homem não se revê no seu trabalho mecanizado e repetitivo, ou seja, não obtém a realização profissional que deveria obter, referindo-se a uma essência do homem que seria suposto o trabalho completar.
O marxista Paul Lafarge exprimiu-se desta forma: "A nossa época é o século do trabalho. É, com efeito, o século do sofrimento, da miséria e da corrupção".

trabalho (filosofia). In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-10-29].
Disponível na www: .

Eu sei, mas não devia...


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Marina Colasanti (1972)