quinta-feira, dezembro 31, 2020
terça-feira, dezembro 29, 2020
samuel beckett / worstward ho
Em diante. Dizer em diante. Ser dito em diante.
Dalgum modo em diante. Até de modo nenhum em diante. Dito de modo nenhum em
diante.
Dizer por ser dito. Desdito. De ora em diante dizer
por ser desdito.
Dizer um corpo. Onde nenhum. Mente nenhuma. Onde
nenhuma. Ao menos isso. Um lugar. Onde nenhum. Para o corpo. Estar lá dentro.
Morrer-se lá dentro. E sair. E voltar lá para dentro. Não. Sair nenhum. Voltar
nenhum. Só entrar. Ficar lá dentro. Em diante lá dentro. Parado.
Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nunca ter
tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez.
Falhar melhor.
samuel
beckett
últimos
trabalhos de samuel beckett
tradução de miguel esteves cardoso
o independente / assírio & alvim
1996
segunda-feira, novembro 02, 2020
sábado, outubro 03, 2020
quinta-feira, setembro 17, 2020
sábado, julho 18, 2020
Rodrigo Leão - Avis 2020
Para ouvir e sentir, um trabalho de suprema mestria em que Rodrigo Leão atinge a maturidade absoluta. Gosto, gosto muito, um prazer de sons muito agradável, para mim um dos melhores trabalhos de Rodrigo Leão.
O confinamento deu um bom fruto, surpreendentemente delicioso este álbum, um tributo à vasta planície alentejana que serve de inspiração a esta maravilhosa obra musical.
O confinamento deu um bom fruto, surpreendentemente delicioso este álbum, um tributo à vasta planície alentejana que serve de inspiração a esta maravilhosa obra musical.
segunda-feira, maio 04, 2020
Dia da mãe...
No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.
Herberto Helder, in 'Excerto do poema «Fonte», publicado em A Colher na Boca, 1961'
sábado, março 21, 2020
A instalação do medo...
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
*
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
Alexandre O'Neill, in 'Abandono Viciado'
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
*
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
Alexandre O'Neill, in 'Abandono Viciado'
Do fundo do baú...
tesourinhos preciosos no arquivo da rtp, programa Palavras Vivas com Mário Viegas
mais info aqui...[arquivo da rtp]
sexta-feira, março 20, 2020
de Tóquio a Nova Iorque...
Museus a visitar nesta vida ou noutra vida sem vírus...
em Tóquio...take a look...[Mori Building Digital Art Museum]
em Nova Iorque...[New Rhizome Museum]
De onde chegam estas palavras?
De onde me chegam estas palavras?
Nunca houve palavras para gritar a tua ausência
Apenas o coração
Pulsando a solidão antes de ti
Quando o teu rosto dóia no meu rosto
E eu descobri as minhas mãos sem as tuas
E os teus olhos não eram mais
que um lugar escondido onde a primavera
refaz o seu vestido de corolas.
E não havia um nome para a tua ausência.
Mas tu vieste.
Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?
Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Preenches todos os minutos.
acendes todas as fogueiras
escreves todas as palavras.
Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.
Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta
por onde caminhas nua.
Nunca houve palavras para gritar a tua ausência
Apenas o coração
Pulsando a solidão antes de ti
Quando o teu rosto dóia no meu rosto
E eu descobri as minhas mãos sem as tuas
E os teus olhos não eram mais
que um lugar escondido onde a primavera
refaz o seu vestido de corolas.
E não havia um nome para a tua ausência.
Mas tu vieste.
Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?
Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Preenches todos os minutos.
acendes todas as fogueiras
escreves todas as palavras.
Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.
Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta
por onde caminhas nua.
Joaquim Pessoa
Tu és mortal meu Deus...
Noite, vem noite
sobre mim sobre nósdá o repouso absoluto de
tudotraz peixes e abismos para nos abismarmostraz o
sono traz a mortee vem noite por detrás de nós e
sobre nóse escreve com o teu negroa morte que
há em nós.Livra-nos e perdoa-nos
tudoredime-nos os pecadose enforca os nossos rostos em teu
nome
António Gancho
quinta-feira, fevereiro 13, 2020
Uma mulher não é de ferro...
O novo livro de Rita Arame foi hoje lançado na Livraria Batata, e é já um best-seller no ensaio literário a nível nacional.
A editora do livro, as Edições Couve Roxa, conta esgotar a 1ª edição.
A autora criadora dos “universos coerentes” presenteia-nos com este dejeto literário.
Uma história vivida nas avenidas novas, uma narrativa extremamente densa, sem ponta por onde se lhe pegue, uma conceptual ideia na estrutura com afinidades, mas que não passa de um produto menor, como já anteriormente foi referido.
Este livro dá pano para mangas, o tema, esse delicioso e profiláctico mel, aqui produzido, vinte e quatro horas de dúvidas existenciais e a renovação da vontade de não voltar a ler livros com este.
A revolta de um sentimento profundo, a violência doméstica, o quotidiano dessas abelhas que são as mulheres.
Apesar de tudo, revela a história de uma mulher que tinha apenas seis meses quando os pais se separaram. Após uma infância marcada por uma mãe ausente, no início da sua maturidade descobre inesperadamente um pai de olhar arrebatado, exclusivamente centrado nela. A vida é dura.
quarta-feira, fevereiro 12, 2020
terça-feira, fevereiro 11, 2020
quarta-feira, fevereiro 05, 2020
sexta-feira, janeiro 31, 2020
quinta-feira, janeiro 30, 2020
terça-feira, janeiro 28, 2020
domingo, janeiro 26, 2020
sábado, janeiro 25, 2020
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