À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
Alda Lara
5 comentários:
Acabei de ouvir este poema na maratona da poesia em Sintra, foi um momento arrepiante...
Eu tb ouvi e concordo com a Sandra n., foi simplesmente genial!!
Adoro este som Wim Mertens!!!
:)
Esta Poetisa tem um tom cheio de grandiosidade, primeiro por ser africana, e segundo por ser Poeta.
Conheço muitos poemas escritos por ela como por ex.: Presença Africana; Prelúdio.
Gostei imenso da tua escolha.
Que maravilha! Não conhecia...
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