Deito-me na rede atada
 Aos pináculos do fuso horário.
 Tivessem os meus dias um dono
 ao alcance da voz
 que por mim cora; sem pejo
 o adularia.
 Este sulco em minha mão
 que enruga a testa das ciganas
 não vai mais longe o seu cavalo cego.
 Que ilusória beleza
 Raia
 um verso nado
 e, dúplice, na ausência de ambos,
 a cama estática.
 Como dos deuses, descrevo
 da inspiração ;
 entre mim e a voz
 há um convívio silente.
 Quando da avenida,
 o alto repuxo de som
 inunda o flat,
 volto eu à secura
 íntima da água.
 Há poetas com musa. Muitos.
 Eu , neste jardim do Éden,
 a cargo do município,
 onde um velho destece a sua vida
 e, baixando o olhar,
 ainda lhe afaga a trama,
 quando a poesia se afoita,
 amuo
 na agrura de, ao acordar,
 tê-la sonhado.
 Sebastião Alba
 In  A Noite Dividida/ o Limite Diáfano, Lisboa,
 Assírio e Alvim, 1996
 
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