terça-feira, outubro 30, 2007

Uma Pedra ao lado da Evidência ...

Deito-me na rede atada
Aos pináculos do fuso horário.

Tivessem os meus dias um dono
ao alcance da voz
que por mim cora; sem pejo
o adularia.

Este sulco em minha mão
que enruga a testa das ciganas
não vai mais longe o seu cavalo cego.

Que ilusória beleza
Raia
um verso nado
e, dúplice, na ausência de ambos,
a cama estática.

Como dos deuses, descrevo
da inspiração ;
entre mim e a voz
há um convívio silente.
Quando da avenida,
o alto repuxo de som
inunda o flat,
volto eu à secura
íntima da água.

Há poetas com musa. Muitos.
Eu , neste jardim do Éden,
a cargo do município,
onde um velho destece a sua vida
e, baixando o olhar,
ainda lhe afaga a trama,
quando a poesia se afoita,
amuo
na agrura de, ao acordar,
tê-la sonhado.

Sebastião Alba
In A Noite Dividida/ o Limite Diáfano, Lisboa,
Assírio e Alvim, 1996

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