- Alô, cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que tantas saudades me deixaste?
- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento.
Em sítios que nunca viste,
De um país que não existe...
Voltei, te trouxe a alegria.
- Muito contas, cotovia!
E que outras terras distantes
Visitaste? Dize ao triste.
- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, Bahia...
-E esqueceste Pernambuco,
Distraída?
-Voei ao Recife, no Cais
Pousei da Rua da Aurora.
- Aurora da minha vida,
Que os anos não trazem mais!
- Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino
Para o bem que é deste mundo:
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, ainde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.
MANUEL BANDEIRA
in "Estrela da Vida Inteira"
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