quarta-feira, novembro 13, 2013
Dias Felizes...
Mais de cinquenta anos volvidos sobre a estreia de Ah, os dias felizes, o quadro de abertura da peça de Samuel Beckett continua a surpreender-nos, intrigar-nos, perturbar-nos. Sob um sol inclemente, uma mulher enterrada até à cintura age como se tal condição fosse a coisa mais natural do mundo, respondendo à cruel estranheza da sua circunstância com um discurso falsamente bem-disposto e hábitos ritualizados. Winnie é o seu nome. Willie é o marido dorminhoco, lacónico e intermitente, a quem a mulher dirige a sua tagarelice, até que “as palavras nos abandonem”… Da coralidade coreografada de Casas Pardas de Maria Velho da Costa (2012) – onde a protagonista Elisa, falando-se-lhe de perdizes, soltava um irónico “Ah, os dias felizes” –, Nuno Carinhas passa agora à imobilidade cronometrada da peça de Samuel Beckett, descobrindo na elementaridade e aridez do texto do dramaturgo irlandês uma metáfora de surpreendente fertilidade, capaz de dar conta tanto da condição humana como do jogo da representação teatral ou de uma civilização devastada. Nesta nova incursão pela quase desesperante intimidade do teatro beckettiano, o director artístico do TNSJ chama Emília Silvestre e João Cardoso, atores que o encenador dirigiu em várias aventuras, algumas das quais de grande solidão, em particular esse “buraco esquecido por Deus” que foi Todos os Que Falam, espetáculo de 2006 composto por quatro dramatículos de Beckett.
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