quarta-feira, fevereiro 04, 2015

segunda-feira, janeiro 26, 2015

Idiotia e Felicidade...


Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor?

Pois explico já. A idiotia e a felicidade são ideias muito vagas, difíceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia é susceptível de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espécie de segurança em si próprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito próxima do que se pode chamar estado de felicidade.Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, não penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mãos postas, repetia aplicadamente. Acabei por não me casar com ela.

Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se, naquele preciso momento, convertido irresistivelmente ao Cristo e à irradiação da sua verdade e da sua beleza? E não pode afirmar-se que o grande poeta fosse um idiota.

Agora a minha parente era-o, de certeza, e queria fazer de mim outro idiota. Não por desejar reconverter-me, mas por aconselhar-me, como meio, o de eu não pensar, o de eu principalmente não pensar. Se tivesse casado com ela (que não era filha da minha lavadeira) talvez tivesse sido feliz - não se sabe - idiota e feliz. Assim, fiquei longos anos idiota e infeliz, infeliz por ser idiota e saber que o era e que não podia deixar de o ser. Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.

Não se espante, por conseguinte, o leitor de que um qualquer idiota possa, ao mesmo tempo, ser feliz. É, até, assaz corrente. Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza alguma felicidade, aquela maneira de felicidade que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.

O leitor gostaria de ser ministro ou secretário de Estado? Pois fique sabendo que há quem goste, embora - será justo dizê-lo - também há quem o seja a contra-gosto, por dever partidário ou patriótico.

Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima como poder, é, quase sempre, um perigo.

Oremos.

Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.

(Alexandre O'Neill, Uma Coisa em Forma de Assim)

sábado, novembro 29, 2014

Interstellar...







Interstellar
De:
Christopher Nolan
Com:
Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Wes Bentley, Michael Caine, Casey Affleck, Matt Damon
Género:
Aventura, Ficção Científica
Classificação:
M/12
Outros dados:
EUA/GB, 2014, Cores, 169 min.

segunda-feira, junho 09, 2014

Grand Budapest Hotel...




De: Wes Anderson
Com: Ralph Fiennes, F. Murray Abraham, Mathieu Amalric, Adrien Brody, Willem Dafoe, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Saoirse Ronan, Jason Schwartzman, Jeff Goldblum, Léa Seydoux, Tilda Swinton, Tom Wilkinson, Owen Wilson

Todos os Nomes...


sábado, março 01, 2014

A Grande Beleza...







Título original: La Grande Bellezza
De: Paolo Sorrentino
Com: Toni Servillo, Carlo Verdone, Sabrina Ferilli
Outros dados: FRA/ITA, 2013, Cores, 142 min.

quarta-feira, novembro 13, 2013

Dias Felizes...





Mais de cinquenta anos volvidos sobre a estreia de Ah, os dias felizes, o quadro de abertura da peça de Samuel Beckett continua a surpreender-nos, intrigar-nos, perturbar-nos. Sob um sol inclemente, uma mulher enterrada até à cintura age como se tal condição fosse a coisa mais natural do mundo, respondendo à cruel estranheza da sua circunstância com um discurso falsamente bem-disposto e hábitos ritualizados. Winnie é o seu nome. Willie é o marido dorminhoco, lacónico e intermitente, a quem a mulher dirige a sua tagarelice, até que “as palavras nos abandonem”… Da coralidade coreografada de Casas Pardas de Maria Velho da Costa (2012) – onde a protagonista Elisa, falando-se-lhe de perdizes, soltava um irónico “Ah, os dias felizes” –, Nuno Carinhas passa agora à imobilidade cronometrada da peça de Samuel Beckett, descobrindo na elementaridade e aridez do texto do dramaturgo irlandês uma metáfora de surpreendente fertilidade, capaz de dar conta tanto da condição humana como do jogo da representação teatral ou de uma civilização devastada. Nesta nova incursão pela quase desesperante intimidade do teatro beckettiano, o director artístico do TNSJ chama Emília Silvestre e João Cardoso, atores que o encenador dirigiu em várias aventuras, algumas das quais de grande solidão, em particular esse “buraco esquecido por Deus” que foi Todos os Que Falam, espetáculo de 2006 composto por quatro dramatículos de Beckett.

domingo, outubro 20, 2013

FERNANDA QUEM FALARÁ DE NÓS, OS ÚLTIMOS?



Testemunho impressionante de um amor e de uma perda, Fernanda é a última obra de Ernesto Sampaio, poeta, jornalista, ensaísta, teórico do surrealismo que partilhou boa parte da sua vida com a actriz Fernanda Alves. Texto intensamente lírico, torna-se material, quase físico, através do contraste entre a memória do amor e a memória das inúmeras personagens que a actriz viveu ao longo da sua intensa carreira. Daí a intersecção de outros textos, desde o Hamlet à Grande Imprecação Diante das Muralhas da Cidade, de Tankred Dorst, desde Gil Vicente a Herberto Helder. Daí, também, um sentido mais ancorado nos humores das pequenas coisas, dos pequenos gestos diários que fazem o caminho que leva ao reencontro de dois amantes.

Prosas e poemas de Fernanda, de Ernesto Sampaio
Encenação Fernando Mora Ramos
Selecção e montagem de textos Isabel Lopes e Fernando Mora Ramos
Direcção de ensaios e dramaturgia Isabel Lopes
Dispositivo cénico e figurinos Isabel Lopes e Fernando Mora Ramos
Criação sonora e sonoplastia Carlos Alberto Augusto
Desenho de luz Nuno Meira

Interpretação Joana Carvalho e Fernando Mora Ramos

Co-produção Teatro da Rainha e Teatro Nacional São João
Co-apresentação Teatro da Rainha e São Luiz Teatro Municipal